Já escrevi diversas vezes sobre os endowments das universidades norte-americanas. Como eles tem um prazo infinito, regras claras sobre disitribuição e, em muitos casos, muito dinheiro, eles são uma boa comparação sobre o que é possível em termos de retorno em dólares para um portfólio diversificado.
Isso porque essas características permitem com que esses endowments adotem uma estratégia bastante agressiva. Eles alocam parcela relevante de seus portfólios em investimentos alternativos (venture capital, hedge funds, áreas de reflorestamento, imóveis – tanto diretamente quanto no financiamento – e até plantações de tomate no Brasil!). Mas, nem sempre, isso é garantia de performances diferenciadas. A tabela abaixo mostra isso, com a performance em diversos períodos, separando os endowments por tamanho:

Como o ano fiscal dos endowments terminam em junho, os dados acima são referentes a 30/06/2018.
As alocações médias, são as seguintes:

Claro, estou falando em médias. Os dados da NACUBO, vão um passo além e separam os retornos e alocações em percentis (não vou nem colocar a tabela de um ano, já que ela não nos ajuda muito). A coluna 95th Percentile mostra o resultado médio dos 5% melhores endomwents para cada tamanho (clique para ampliar):

Como comparação, veja o resultados dos nossos benchmarks no exterior (também com dados de 30/06/2018):

Os benchmarks acima não contam com nenhum investimento alternativo em suas composições. Mesmo assim, somente os 5% ou 10% melhores endowmentsconseguiram batê-los nos períodos de comparação. É importante lembrar que dados de risco não estão disponíveis, então não podemos comparar esse quesito.
Enfim, há alguma vantagem em uma diversificação maior, buscando investimentos alternativos. Porém, os dados acima são claros: isso tem que ser bem feito. Afinal, a maioria dos endowments não consegue bater benchmarks simples.
Então, não adianta pular no primeiro projeto oferecido e analisar somente o retorno esperado e prazo. Uma análise muito mais profunda deve ser feita para entendermos todos os riscos, custos e outros detalhes. Uma carteira de investimentos alternativos é construída ao longo de anos e não meses.
Escrevi tudo isso para comentar sobre uma reportagem sobre o endowment de Yale. Certamente ele está entre os 5% melhores nas tabelas acima (com grandes chances de ser o melhor) e é um dos mais famosos, pois foi pioneiro na alocação em investimentos alternativos. Tudo isso por causa de David Swensen, que está a frente da gestão há mais de 30 anos.
Ele é um rock star no mundo dos investimentos institucionais (claro, ninguém deve pará-lo na rua para pedir uma foto) e seu livro virou um best seller e uma referência. O que me chamou a atenção na reportagem foram os primeiros parágrafos. Eles falam sobre um curso da própria para executivos chineses, ministrado por Charles Ellis.
A mensagem principal desse curso foi: não tente o que fizemos.
Ellis então tenta explicar o porque e em dos slides ele faz a seguinte provocação. Em um slide ele escreveu: “Dados desagradáveis: perdedores perdem o dobro do que os vencedores ganham”. Ele falou sobre como a maioria dos fundos e instituições são perdedores (como vimos acima, em que a vasta maioria perde para benchmarks simples e estariam melhores comprando um ETF – isso mesmo somente um!)
O slide seguinte traz a seguinte consideração: “Reverta a pergunta: Você consideraria investimentos ativos sabendo que eles tem: taxas maiores, retornos maiores, mais risco em sue portfólio, mais risco em seus gestores, toma mais tempo, mais incertezas?”
Depois Ellis, mostrou um slide com a lista com o que torno o endowment de Yale único e no seguinte o que o torno extraordinário:
- David Swensen
- David Swensen
- David Swensen
Aonde ele quis chegar com isso? Ele tentou mostrar que o modelo de Yale não deve ser copiado pois é único. Apesar de todo mundo saber como ele funciona ninguém consegue replicá-lo. A mesma coisa acontece com o método de Warren Buffet. Todo mundo sabe: compre grandes empresas a preços baixos. Mas não vemos muitos bilionários por aí.
Lembre-se disso, quando seu vizinho, cunhado, motorista de táxi falar sobre um investimento. O que serve para eles, não serve para você. Só porque alguém está ganhando uma fortuna fazendo algo, não quer dizer que o mesmo acontecerá com você.
Siga sua estratégia!
Originalmente enviado aos clientes da Inva Capital em 09/08/2019.