Na semana passada, começamos nossa série sobre investir em ações. Falamos sobre a diferença entre preço e valor e as duas metodologias usadas para calcular o valor de uma empresa:
- Análise Relativa
- Fluxo de Caixa Descontado
Agora, vamos falar sobre a análise relativa. Como escrevemos no último Plano de Voo, essa metodologia não calcula o valor intrínseco de uma empresa. Ela compara alguns indicadores com empresas semelhantes e nos diz se a ação está cara ou barata relativamente às outras. Ou seja, o resultado irá depender de como está o mercado naquele momento.
Existem diversos indicadores, mas vamos falar dos três mais usados:
P/L
O indicador Preço/Lucro, sem dúvida, é o mais usado no mundo para rápidas comparações entre empresas. Seu cálculo é bastante simples: basta dividir o preço atual de uma ação pelo lucro por ação da empresa nos últimos 12 meses. Depois disso, é só comparar com outras empresas do mesmo setor para saber qual está barata e qual está cara.
A grande desvantagem do P/L é que ele usa os últimos 12 meses. Quando compramos uma ação, estamos preocupados com seu futuro. Por isso, algumas pessoas usam o chamado forward P/L, que usa o lucro projetado nos próximos 12 meses. Mas seu resultado é tão bom quanto a projeção – e como sabemos, projeções tendem a estar erradas grande parte do tempo.
P/VP
O Preço/Valor Patrimonial compara o preço da ação com o valor do patrimônio líquido no balanço da empresa (divide-se o patrimônio líquido pelo número de ações). A grande desvantagem do P/VP é que ele usa os dados do balanço, que muitas vezes estão bastante desatualizados em relação a realidade.
EV/EBITDA
O EV refere-se ao valor total da empresa, ou seja, a soma do valor de mercado de suas ações e das suas dívidas. O EBITDA é a sigla inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Ele é visto, de forma bastante equivocada, como uma medida equivalente à geração de caixa de uma empresa.
Você deve ter percebido que estes três indicadores dependem do balanço de uma empresa. Ou seja, as práticas contábeis de uma empresa tem influência direta em seus valores. Essa é uma das principais desvantagens da análise relativa: duas empresas podem ser idênticas em seus negócios, mas diferentes metodologias contábeis levariam a números diferentes de P/L, P/VP e EV/EBITDA.
Nada melhor que um exemplo para entendermos a Análise Relativa. Escolhemos o setor de varejo, mais especificamente moda. Faremos a comparação de Restoque (Le Lis, John John e, agora, Dudalina), Lojas Renner, Marisa, Hering e Guararapes (Riachuelo). Na tabela abaixo, colocamos os indicadores de cada empresa, a média e mediana:
Como a Restoque teve prejuízo nos últimos 12 meses, não podemos calcular seu P/L. Note que seu P/VP e EV/EBITDA é muito maior que a média. Isso é explicado pela recente fusão da Dudalina. O preço das ações subiu muito e os números da Dudalina ainda não estão consolidados no balanço.
Usando a Análise Relativa, deveríamos comprar ações da Guararapes (isto não é uma recomendação!!!). Todos os seus indicadores estão abaixo da média, o que mostra que sua ação está mais barata em relação às outras empresas.
Esse é o motivo de tanta gente falar de P/L e EV/EBITDA. É muito fácil obter esses dados e é mais simples ainda comparar os números para saber se uma ação está cara ou barata.
Originalmente enviado aos clientes da Inva Capital em 10/10/2014.
Follow-up
Apenas por curiosidade, veja como as ações das empresas se saíram desde o dia que este artigo foi enviado:
Fora a Renner, as outras despencaram.