Recentemente, a Anbima abriu audiência pública para as alterações do Código ANBIMA de Auto Regulação e Melhores Práticas para Administração de Recursos de Terceiros e (que substituíra o Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas de Fundos de Investimento). É um passo importante para a administração de recursos no Brasil ganhe espaço.
Infelizmente, o capítulo sobre gestão do Patrimônio Financeiro ainda usa suitability como referência para saber se um produto se encaixa no perfil do investidor. Sabe aqueles perguntas que você responde no site do banco ou corretora e que geram um perfil (conservador, moderado ou agressivo). Pois é, isso é suitability.
Esse padrão não é destinado a gestão de patrimônio, e sim aos corretores. Eles tem que vender produtos que se encaixem no perfil do cliente. Alguém com perfil conservador, não poderá investir em um produto classificado como agressivo, por exemplo.
Na gestão de patrimônio, o cliente delega a tomada de decisão. Por isso, o gestor deve entender a fundos as necessidades, objetivos e particularidades do cliente (algo muitíssimo mais complexo que conservador, moderado ou agressivo) e tomar as melhores decisões possíveis, sempre colocando o interesse do cliente em primeiro lugar (o que é facilitado quando o gestor não recebe comissão e é pago somente pelo cliente, como fazemos na Inva Capital). Esse é o padrão fiduciário.
A imagem abaixo resume a diferença entre suitability e padrão fiduciário:

Enfim, lembrei desse assunto após ler a coluna do, sempre genial, Matt Levine (ênfase minha):
Um grande problema no setor financeiro é que muitos clientes pensam que estão lidando com advisors, enquanto a indústria pensa que estão lidando com vendedores. Se eu tiver títulos de renda fixa e não quero esses títulos, e eu sou um vendedor, e eu convenço você a comprar esses títulos de mim, então isso é bom, esse é o meu trabalho, tudo está bem.
Se eu tiver títulos de renda fixa e não quero esses títulos, e eu sou seu advisor, e eu convenço você a comprar esses títulos de mim, então isso é ruim, é o oposto do meu trabalho, isso é um conflito de interesses . E se eu acho que sou um vendedor cujo trabalho é vender coisas que eu não quero, e você acha que sou um advisor cujo trabalho é ajudá-lo a comprar coisas que você deseja, então todas as nossas interações serão fundamentalmente desonestas, terríveis e perigosas.
Os corretores geralmente devem ser fiduciários para seus clientes? Não, claro que não, isso seria estúpido. O trabalho de um corretor é comprar título de renda fixa de um cliente e vendê-lo para outro. Se o corretor promete a ambos os clientes que está lhes dando fidelidade exclusiva e o melhor conselho possível, como ele pode fazer esse trade? O trabalho de um corretor não é atuar no melhores interesse de cada cliente, ou dizer que cada transação funcionará bem para cada cliente. O trabalho de um corretor é, honestamente, intermediar as transações.
As pessoas que se chamam financial advisors (consultor financeiro, ou algo do gênero) geralmente devem ser fiduciárias para seus clientes? Sim, a resposta é sim, obviamente. Isso não encerra a discussão – o conteúdo específico de um padrão fiduciário é importante – mas a questão básica é muito simples. Se você se entitula um financial advisor, seus clientes irão pensar que você está agindo no melhor interesse e, se não estiver, está enganando-os, não importa o que diga nas letras miúdas do contrato.