Na semana passada, escrevemos mais uma vez sobre o estudo que a Standard & Poor’s faz (SPIVA) comparando fundos ativos com os seus respectivos benchmarks. A conclusão, desde que começamos a falar do SPIVA (em 2014!), é sempre a mesma: a maioria dos fundos não consegue superar o seu benchmark, e os investidores estariam numa situação melhor se investissem em fundos passivos (geralmente ETFs).
A Inva Capital já teve um fundo de ações. Hoje, ele está sendo gerido pela Capital Investimentos e somos consultores (fizemos isso para baixar os custos para os investidores). Alguns de nossos clientes tem dinheiro investido neste fundo (inclusive eu) até hoje.
Certamente, eles já haviam pensado nisso desde a primeira vez que falamos sobre o SPIVA, mas, enfim, a pergunta inevitável veio: “se o SPIVA mostra que é difícil bater o benchmark no longo prazo, por que vocês têm um fundo ativo?”
Logo que recebi o email, já sabia que este seria o assunto deste Plano de Voo. Entretanto, o Raphael se adiantou e escreveu a seguinte resposta (ênfase minha):
Sim, o nosso fundo é ativo e tem conseguido apresentar performance melhor do que o Ibovespa, o que na verdade não foi muito difícil nos últimos anos devido a derrocada da Petrobras e da Vale. Apesar disso, diferente da maioria das gestoras e dos vendedores de produtos do mercado financeiro, nós não recomendamos que nossos clientes tenham apenas o nosso fundo como veículo de investimento para a classe de ações.
Nos últimos dois meses, em que Petrobras, Vale e Banco do Brasil subiram fortemente, a grande maioria dos fundos ativos, inclusive o nosso, está perdendo feio para a média.
Há uma outra questão: o mercado financeiro brasileiro é menos eficiente que o mercado norte-americano, no qual o SPIVA se baseia, logo, por aqui existe uma chance um pouco maior dos fundos ativos conseguirem superar o benchmark. No Brasil, os fundos ativos possuem um desempenho relativo ao índice melhor do que nos EUA. Apesar disso, no período que a bolsa subiu bem (2003 a 2007), muitos os fundos ativos tiveram grande dificuldade de superar o índice.
Sobre o fundo: atualmente somos Consultores do fundo e nem todas as estratégias vêm de nós. Acompanhamos o fundo de perto, temos recursos nossos e de alguns de nossos clientes lá, mas não sugerimos que ninguém tenham 100% de suas aplicações em ações no Capital Value FIA (antigo Inva Capital Fundamental).
Felizmente, a reposta dele não focou no que eu imaginava escrever (a parte em negrito da resposta).
Uma estratégia ativa tem as seguintes características:
- busca performance superior ao mercado (que, como vimos, nem sempre acontece)
- maiores taxas
- mais risco
- foco maior no curto prazo
Já a passiva apresenta:
- performance igual ao mercado
- taxas menores
- risco menor
- foco no longo prazo
Existe uma estratégia de montagem de carteira chamada Core-Satellite (não sei se existe tradução para o português, mas isso quer dizer Núcleo-Satélite). Basicamente, ela consiste em montar o núcleo da carteira (Core) com investimentos passivos e investimentos menores em posições ativas (Satellite). A representação disso pode ser vista na imagem abaixo:
E é isso que tentamos implementar nas estratégias dos nossos clientes. Recomendamos ETFs (BOVA11, BRAX11, SMAL11 e DIVO11, na maioria das vezes) para compor o núcleo e algumas ações e/ou fundos ativos como satélites. Obviamente, o peso de cada uma varia de acordo com o perfil do investidor.
Espero que os motivos de um fundo ativo (ou uma ação) numa carteira (se bem escolhidos e administrados!) em um portfólio tenham ficado claros.
Originalmente enviado aos clientes da Inva Capital em 01/04/2016.